terça-feira, 3 de janeiro de 2012


Músico de boteco, escritor de guardanapo, sorridente e alérgico a camarão. Sou eu. Não sou rico não, moço…Mas toda noite sou feliz. Eu sou um bêbado de alma, desgovernado e incerto a cada passo. Beber serve pra muita coisa. Pra comemorar, pra afogar as mágoas, pra te inspirar, pra tirar tua timidez, pra aparecer. Mas já eu, comecei bebendo pra afogar as mágoas de ter me perdido de mim mesmo e acabei bebendo pra comemorar isso. Sabe, eu não era uma pessoa lá tão boa e mudei. Eu não tinha mais ninguém, nem família, nem filhos e nem a mim mesmo, pra quê se importar com alguma coisa quando se perde tudo? Pra que se preocupar se tem alguém olhando? Não tem porquê, moço! Vezenquando bate uma recaída. Sabe, não ter alguém pra amar. Mas quem disse que preciso disso pra ficar feliz? Eu bebo até ficar feliz de novo! Quer coisa melhor que música, amigos, cerveja e o Rio de Janeiro? Não tem não, moço! Antes dessa vida eu tinha tudo e agora ela é tudo que eu tenho. Bebi da solidão e acabei me viciando, perdendo tudo e até a mim mesmo! Eu sou sozinho e vago pelas ruas do silêncio toda noite, as vezes vejo isso tudo dobrado de tão bêbado e quase me afogo, mas logo percebo que tudo tá aqui, moço. Aqui dentro de mim. Quase transbordando. Ô moço, quer um conselho? Ó, nunca confie em quem não tem nada a perder, mas sempre confie em quem já perdeu tudo. As pessoas sempre querem mais e mais, moço, mas quando perdem tudo aprendem que se subirem muito, caem do alto. Aprendem a se contentar consigo mesmo e serem auto-suficientes. Sem precisar lhe roubar, pisar ou machucar. Pois é, moço, num bar se aprende muita coisa. […] Uma vez me perguntaram se eu não tinha medo de morrer, eu disse que não. Só isso. Sabe, moço, eu não tenho mais nada aqui a não ser eu. E isso quando eu morro, eu levo. Todo o pouco que aprendi vem comigo. Não se apega a coisas materiais e pessoas não, moço. Essas coisas acabam e vão embora. Um dia chegaram a me avisar que essa história de beber ia acabar me matando mais cedo. Mas moço, pensa comigo: antes disso tudo, eu era um cara cinzento de terno, estressado e com uma família que mal me conhecia. Eu era preto e branco, infeliz, sem aventura e sozinho. Só um peso morto, só um número a mais pro IBGE. Moço, agora eu sou feliz toda noite. Mas agora me diz, moço…Você prefere viver por muito tempo sendo infeliz, triste e preto e branco, levando isso como uma obrigação, ou prefere viver por pouco tempo sendo feliz todos os dias e rindo atoa? A escolha é sua, moço. A minha eu já fiz! […]
— Pedro Rocha

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